Aí têm a grande herança do Projecto Roquette: o afastamento de metade dos sócios, o embrutecimento dos que restam. Foi assim que a oligarquia chegou ao poder, é assim que por lá se irá manter; manipulando, mentindo, chantageando. Não interessa que os sócios/adeptos/clientes/consumidores sejam cada vez menos, desde que sejam os suficientes para sustentar uma entidade que vá chegando para as encomendas de tachos e que vá alimentando os parasitas do futebol. Também não interessa que essa mesma entidade – clube, empresa, SAD chamem-lhe o que quiserem – não almeje, nem consiga, mais do que um sucesso relativo, limitado e não consentâneo com a cultura ganhadora que lhe serviu de alicerce e inspirou o seu crescimento; não interessa, porque para a maioria dos resistentes basta que o vizinho do lado não seja melhor ou não passe por menos vergonhas. Se Mostovoi tivesse falhado o 7º golo do Celta eu gostava de saber o que teriam para dizer aqueles que nem numa AG do SCP se coíbem de chamar o Clube da Gaivota à conversa para relativizar o sucesso do seu próprio clube.
Os sócios deviam ser o sangue do clube, aquilo que lhe dá vida. Que tristeza por vê-lo reduzido a uma massa preponderantemente acéfala que não sabe interpretar uma convocatória e que cede a discursos vazios e demagógicos, seguindo um tirano mascarado de salvador com a sua capa de tecnocracia como nem as ratazanas seguem um Flautista de Hamelin, seguindo um mentiroso que nunca fez nada para merecer a idolatria de que é alvo. Que tristeza por ver a massa associativa a vergar-se ao jogo duplo de quem tão depressa diz que “a SAD está muito bem de saúde” e que “fomos 3 anos seguidos à Liga dos Campeões” para arrogar a sua competência e mérito, como diz que o passivo é monstruoso e que “ai ai ai, que não conseguimos segurar o Liedson” para fazer a apologia duma transfiguração do clube.
Para quem tanto defendeu o modelo das SAD como garantia de rigor, transparência e profissionalismo por oposição ao medo inspirado pelos “aventureiros” que apareciam do nada e que seduziam a massa associativa com promessas de craques, em grande incoerência cairá agora ao se render aos aventureiros de hoje que preconizam transfigurações profundas do clube e que acenam aos sócios com promessas de investimento no futebol e regalias aos sócios. Não só cai em incoerência como demonstra burrice, pois se aos aventureiros de ontem ainda se podia dar o benefício da dúvida já que eram desconhecidos, aos aventureiros de hoje já se lhes conhece o registo, as intenções, as capacidades, as quais entram em contradição com aquilo que dizem que querem e de que são capazes. Resumindo, tirando os “artistas”, está tudo na mesma, mas hoje somos menos, estamos mais desligados e somos mais pobres.
Portanto, os aplausos que se ouviram quando José Roquette subiu ao palanque na última AG, não têm nada de surpreendente: são o corolário óbvio de 13 anos de afastamento dos sócios e em que a maioria dos sobreviventes são nem mais nem menos do que aqueles que, por ignorância, excesso de confiança numa casta de dirigentes ou falta de humildade para assumirem um erro, continuaram, continuam e continuarão a apoiar e manter uma certa oligarquia no poder.
Elucidação dos sócios precisa-se. Para ontem.