José Eduardo Bettencourt tem dito tantas asneiras e cometido tantos erros em prejuízo do Sporting desde que se tornou presidente do clube que se torna cada vez mais difícil acreditar que dele se vá ler ou ouvir algo de jeito. Mas há uns dias constatou algo acertado: «O Sporting não é, não tem tiques e não tem hábitos de uma organização vencedora. Vamos ter que pedalar muito para ter hábitos de organização vencedora, a todos os níveis. Não apenas os onze jogadores que entram em campo mas todas as pessoas que devem ter uma postura, enquadramento e forma de trabalho completamente diferente».
Estas palavras foram suficientes para vermos o status quo sair em defesa própria. Carlos Barbosa da Cruz, Rui Oliveira e Costa e até Dias Ferreira foram as faces mais visíveis desta reacção. Não se pense que vieram para criticar Bettencourt por não ter assumido a sua quota parte de culpa no cartório (porque tem e muita, visto ter sido administrador-geral da SAD durante 2 anos no início da década e depois vice-presidente do clube durante a presidência de Soares Franco). Não, em vez disso o principal teor das críticas assentou no quão despropositadas e injustas foram as palavras de Bettencourt.
Ok, o despropositado ainda compro, porque na verdade é preciso ter uma grande cara de pau para num momento mau vir constatar o que entra há anos pelos olhos dentro quando há poucos meses atrás, enquanto vice-presidente por altura de eleições, falava que ao Sporting faltava apenas um bocadinho mais de sorte e de treino, que o treinador era forever, que a época seria muito bem preparada porque só ele tinha “carta de pesados”, etc. Nessa altura o Sporting era só maravilhas, não se tinha feito nada de errado e a “continuidade” era de comer e chorar por mais. Enfim… :
Quanto ao serem injustas, bem, esta já é mais difícil de engolir. Quer dizer, num clube fundado com o objectivo de ser tão grande quanto os maiores da Europa, com o lema que termina em “… glória”, que conquistou 18 campeonatos nacionais de futebol e mais uma montanha de troféus nesta e noutras modalidades ao longo da sua história apenas superada pela do Barcelona, virem criticar quando alguém diz que não podemos estar contentes e conformados com os últimos 4 anos, período durante o qual não atingimos por uma única vez o nosso principal objectivo, é, perdoem-me a expressão, um exercício de parvoíce e a tentativa em passar um atestado de estupidez aos Sportinguistas que vibram com as vitórias do seu clube. >:D
Muito boa gente ficou chocada com as palavras de Bettencourt… eu fiquei mas foi chocado com este desplante dos defensores do status quo. Bastava-lhes terem assumido cabisbaixos o que JEB tinha acabado de dizer, mesmo que com um: “Fizemos o melhor que sabíamos, mas realmente não foi suficiente, teremos pois de fazer melhor” e teriam dado uma imagem de esforço e dedicação que só lhes ficaria bem perante os Sportinguistas. Mas nem isso foram capazes, a mediocridade e pequenez é tanta que já lhes faz confusão que alguém sequer pense que o Sporting pode ter hipóteses, época após época, de ser campeão… deve ser alguma doença, uma mutação genética roquettista, certamente de gene dominante e imune aos mecanismos de reparação do DNA.
Relembro, Bettencourt limitou-se a descrever o óbvio. Timing completamente errado e revelador de um desnorte total na gestão do clube é certo, mas ainda assim o óbvio… … …então, não doeu assim tanto pois não? Agora que o supra-sumo da gestão o disse, então sim se calhar já são capazes de admitir que o Rei vai nu. Já é qualquer coisa… mas não chega.
Como não tenho ilusões digo desde já: Bettencourt não tem capacidade para enfrentar o status quo. Se a tivesse já o tinha feito. Alguns poderão achar que esta nova faceta guerreira de JEB é o ponto de viragem, mas eu estou convencido que não é mais que a energia que acumulou no quentinho do Brasil e que com o tempo de irá desvanecer uma vez mais. Os dirigentes que cultivam a mediocridade farão tudo e mais alguma coisa para a manter, porque só assim conseguem impedir que a sua incompetência seja questionada pelo comum dos mortais.
Terão por isso que ser os adeptos a querer mudar o clube (eu sei que é cliché, mas não podemos ficar eternamente à espera do Dom Sebastião). Agora que acordaram para a vida convém por isso que ouçam com mais atenção quem há já algum tempo se opõe a este estado de coisas, que percebam os porquês e que os ajudem a lutar por um Sporting ambicioso, com alma e que nos encha de orgulho. Porque se ficarem a aguardar que a mensagem venha do oráculo JEB com nova pantufada no Roquettismo e suas variantes então podem esperar sentados - o Roquettismo (leia-se “a mediocridade”) é como os gatos, tem “nove vidas” e os únicos que alguma vez terão capacidade para lhe dar a estocada fatal são os Sócios através das escolhas que fizerem… convençam-se disso (se estiver difícil façam de conta que me chamo Bettencourt ;D).
© Paracelsus 2010