04 Janeiro 2009 - 00h30
CP: Cardoso dos Reis, indignado com carta anónima, vai apresentar queixa contra incertos
Compras de milhões na base da suspeita
O presidente da CP, Cardoso dos Reis, refutou ontem ao Correio da Manhã todas as acusações constantes de uma carta anónima, enviada ao Ministério dos Transportes, que, por sua vez, a enviou para a Inspecção-Geral das Obras Públicas. As denúncias surgem numa altura em que a CP se prepara para comprar comboios no valor de 430 milhões de euros.
As situações relatadas na carta referem-se, regra geral, a alegados favorecimentos familiares em operações de compras mas as suspeições mais graves são lançadas sobre o próprio presidente da empresa, e estão associadas à compra de material circulante à Siemens.
Na carta, os denunciantes aconselham o inspector-geral a “apurar os contornos do contrato que o presidente pretende assinar com a Siemens na prestação de serviços de manutenção de locomotivas” e sugerem ainda negócios suspeitos na compra de automotoras.
Cardoso dos Reis considera as acusações “falsas” e “caluniosas” e garante que irá fazer uma queixa–crime contra incertos. Rejeita preferências e recorda que as decisões de compra de comboios são tomadas colectivamente pelo Conselho de Administração, depois de pareceres internos. Para além disso, são sempre feitas mediante concursos.
O presidente da CP sublinhou ainda que as conversações com a Siemens dizem respeito à constituição de uma parceria entre a EMEF e a multinacional, para a manutenção de 5600 locomotivas da marca. À semelhança, acrescenta, da parceria realizada com a Bombardier, para o Metro do Porto. Estão ainda previstas negociações com a Alston, conclui.
FRASES
“Rejeito liminarmente todas essas acusações falsas, insidiosas e maldosas. A CP é uma empresa pública, transparente.”
“O que existe são conversações com todos os construtores para a constituição de parcerias de manutenção.”
Cardoso dos Reis
DENÚNCIAS ANÓNIMAS ENVIADAS A MÁRIO LINO E JOSÉ SÓCRATES
O Ministério das Obras Públicas, liderado por Mário Lino, enviou a denúncia anónima para a Inspecção-Geral de Obras Públicas, um procedimento normal, explicou ao CM fonte oficial. No entanto, ressalva, “são apenas acusações, não tendo sido entregue qualquer prova”. As denúncias – elencadas em 16 pontos – terão também sido enviadas para o primeiro-ministro, José Sócrates, e para a Procuradoria-Geral da República.
Os subscritores da denúncia alegam “razões óbvias” para não se identificarem. Algumas das situações descritas na carta terão ocorrido há alguns meses mas outras referem-se a contratos antigos.
As acusações a Cardoso dos Reis referem-se a negociações em curso, numa altura em que a CP se prepara para renovar os comboios urbanos e regionais em serviço em linhas como a do Douro, Minho e Cascais, mas também de locomotivas para a CP Carga.
AS ACUSAÇÕES
Estas são algumas das situações relatadas na carta anónima enviada para o Ministério dos Transportes e que serão investigadas pela inspecção:
1- A divisão de compras mantém há vários anos, sem que se conheça a abertura de qualquer concurso ou consulta ao mercado, contratos para a prestação dos seguintes serviços: limpeza das instalações, segurança e portaria das instalações, pequenas obras de construção civil e manutenção.
2- A aquisição de vacinas para a gripe, administradas gratuitamente aos trabalhadores, na ordem de alguns milhares de doses que nunca foram entregues nas instalações da CP, foram compradas na farmácia de um familiar de um membro do CG da CP.
3- Um contrato-fantasma celebrado com a empresa Ferbritas para o estudo de projecto de novos horários e que esta por sua vez celebrou um protocolo com a empresa MSA, onde um actual administrador da CP é um ex-sócio. Este expediente foi realizado para fugir à necessidade de contratação por via de concurso público.
4- Ainda a situação com a empresa Nasacar, intermediária nas compras para a EMEF, e que tem nos seus quadros directivos um genro do responsável máximo da EMEF.
5- Pretende-se substituir todos os bancos dos comboios Alfa Pendular, não se discutindo que alguns precisem de ser substituídos, a título de lhes dar um novo visual.
6- Um responsável, agora caído em desgraça junto dos seus, foi um dos beneficiados com as encomendas e compras efectuadas, dizendo-se que foi excomungado do grupo por pretender ser mais participante na partilha e ameaçar com denúncias se não lhe fizessem a vontade.
7- Manutenção de um contrato para a prestação de assessoria mediática, inicialmente com a empresa Media Consulting, depois transferida para a empresa Deep Step, ambas com instalações no mesmo domicílio, pela qual a CP paga mensalmente para cima de 4000 euros sem subscrever qualquer serviço à mesma.
Raquel Oliveira