Começa a época 2012/2013. Como em qualquer outra, afinam-se as lentes para perscrutar as equipas, os rivais, as nossas qualidades e os nossos defeitos. Na tabela classificativa todos têm zero pontos, abrindo-se um mundo de possibilidades, desejos e ambições. Contudo, no que diz respeito ao Sporting, parecem-me deslocadas da realidade concreta do clube, seja em termos da qualidade do plantel como da capacidade de quem o dirige. Na minha opinião, o Sporting tem hipóteses muito remotas de ser campeão e parte em clara desvantagem em relação aos rivais directos.
Em primeiro lugar, analisando a equipa de futebol em si, vemos que o nosso maior valor é claramente Rui Patrício. No entanto, se olharmos para o quarteto defensivo que em todos os jogos o acompanha, podemos percepcionar lacunas evidentes. Não existe um lateral-direito experiente ou alguém capaz de coordenar acções ofensivas com movimentos defensivos - como João Pereira fazia e bem. Os centrais são uma incógnita: Boulahrouz é capaz do melhor e do pior, é demasiadamente agressivo e não é (nunca foi) um grande jogador. Rojo tem talento mas terá que se adaptar ao futebol europeu como qualquer jogador oriundo da América do Sul. Xandão, Onyewu e Carriço são competentes mas não mais do que isso, dado terem alguma apetência para cometer erros. No lado esquerdo estamos, como todos os sportinguistas reconhecem, muito bem servidos.
No meio-campo as coisas também não se afiguram melhores. Temos duas óptimas opções para o lugar de pivot defensivo mas falta-nos um criativo, alguém que seja capaz de assumir o jogo ofensivo e “mexer” com a monotonia que se instala num meio-campo repleto de jogadores sem grande vocação construtiva. Para o lugar de médio “box-to-box”, existem duas opções: Schaars e Elias. O primeiro não é conhecido por imprimir velocidade ao jogo (é um jogador mais táctico) e o segundo poderá ser uma das chaves da época, mas ninguém sabe em que forma se irá apresentar. Se for idêntica à da época passada, continuamos sem um oito capaz de efectuar as transições de forma eficaz, ou seja, de transformar momentos defensivos em situações ofensivas (e vice-versa).
No ataque, falta claramente um desequilibrador. Capel é um bom jogador mas não é brilhante, Carrillo e Labyad ainda estão verdes bem como a nova contratação Valentin Viola. Wolsfwinkel garante 25 golos por época mas precisa, obrigatoriamente, de ser municiado dado ser um jogador mais posicional. Acreditar que jogadores de 20 anos, sem grande conhecimento acerca do modelo português, vão subitamente tornar-se craques e resolver jogos contra equipas manhosas, em campos enlameados onde os adversários se adensam no meio-campo defensivo, parece-me pouco realista.
Para atribuir ainda mais incerteza à performance do Sporting, temos um treinador que acaba por ser uma incógnita. Fez um trabalho razoável na época passada, mas não foi capaz de criar um modelo de jogo nem de corrigir os graves problemas na construção ofensiva que o Sporting apresenta há largos anos. E nesta pré-época a coisa não se afigura melhor: o Sporting continua sem fluidez no último terço do terreno e sem capacidade de penetrar defesas fechadas e bem orientadas.
A prestação de uma equipa, contudo, não depende apenas do treinador e dos jogadores. Há todo um elenco directivo que gravita à volta dos atletas e que potencia (ou prejudica) os seus atributos. Camões, há vários séculos atrás, colocou esta ideia de forma poética e bastante clara com o seguinte verso: “o fraco rei faz fraca a forte gente”. Um presidente (ou rei) terá que gerir os ataques feitos pela comunicação social, as más prestações dos senhores do apito - comuns quando o Sporting apresenta bom futebol - e, para além do mais, terá que ser um gestor de motivações e humores da equipa técnica. O problema é que olhando para o actual elenco directivo, não vemos ninguém capaz de executar esta função de forma satisfatória. O Sporting, na última época, foi alvo de calúnias, de más decisões por parte da arbitragem e teve, inclusive, questões internas várias. Tudo isto aconteceu sem que o presidente e as pessoas que estão imediatamente a seguir na linha de poder fossem capazes de responder da melhor forma.
Em suma, no que diz respeito ao futebol, falta-nos um grande central, um lateral direito, e dois jogadores ofensivos capazes de abanar verdadeiramente com o jogo. O actual treinador é jovem e uma incógnita. E as pessoas que estão na direcção já demonstraram a sua dificuldade em manter um clima de paz interno e de responder a agressões oriundas do exterior. Por tudo isto considero que acreditar na conquista do título nacional é uma grande ilusão. Uma ilusão natural, dada a condição de adepto ser feita essencialmente de sonho e não de objectividade. Mas não deixa de ser uma ilusão. E compreender as ilusões é defender o coração para o embate com a realidade. E palpita-me que a realidade, nesta época vindoura, terá punhos de aço orientados para a nossa própria face.
@Winston Smith 2012