Começo por dizer que até à data, acho que o Bruno de Carvalho tem feito no geral um bom esforço no Sporting de modo a equilibrar o clube e a cortar com vícios do passado. Mas por outro lado, acho que ele tem muito a aprender na gestão de recursos humanos e na gestão de egos dos 400 e tal jogadores de futebol que o Sporting tem.
Discordo e muito na visão que a maioria das pessoas aqui tem sobre a forma como o Bruno de Carvalho tem resolvido estes casos. Não se trata de ceder a pressões, não se trata de chantagens, trata-se de gerir o timing em que são feitas as coisas, trata-se de gerir pessoas, trata-se de gerir expectativas dos jogadores em prol dos interesses do clube. É perfeitamente possível e esse deveria ser o papel do presidente e da direcção do clube, o papel aliar os objectivos desportivos e financeiros do Sporting aos mesmos objectivos dos jogadores do clube.
Temos que ser honestos na nossa maneira de pensar e não podemos pensar que estão todos contra o Sporting, contra o presidente do Sporting ou contra os adeptos do Sporting, pois todos nós temos os nossos objectivos.
Ao contrário do que o Bruno de Carvalho diz, não há nenhuma lei que proíba as pessoas de negociar contratos com outros clubes, não há nenhuma lei que proíba os outros clubes de contactar os jogadores do Sporting. Não podemos pensar que vivemos numa época da escravatura e não devemos agir dessa forma. Por outra lado, todos os jogadores com contrato com o Sporting têm deveres perante o Sporting e têm que respeitar esses deveres.
Quando era mais novo, ainda tinha ídolos no Sporting, como foram em tempos o Figo, o Dominguez, o Pedro Barbosa, entre outros. Mas também já há muitos anos percebi que ídolos são coisas que existem nas igrejas, nos clubes de futebol simplesmente não fazem sentido. Por isso tanto me faz, que na equipa do Sporting esteja o Rojo, o Slimani, o Dier ou o José Ninguém, o objectivo do Sporting é estar bem financeira e desportivamente. Sendo que para alcançar isso, temos que saber lidar da maneira mais correcta os objectivos individuais dos atletas. Esta deveria ser a premissa base de qualquer clube.
Temos sempre que saber quem somos, o que podemos fazer, com o que podemos contar para sabermos para onde podemos ir. Por isso não nos devíamos enganar, Portugal para os jogadores de futebol é um ponto de passagem de jogadores que sonham um dia jogar em Inglaterra, Alemanha ou Espanha, por serem Ligas com mais prestigio e mais dinheiro que a Portuguesa.
A situação que se passa no Sporting também se passa no porto ou também se passa no benfica. Sendo que estes dois clubes têm outro tipo de argumentos que o Sporting não tem para gerir este tipo de situação. Por exemplo o porto recentemente, para manter o Jackson focado no clube, aumentou-lhe o salário e baixou-lhe a clausula de rescisão. Goste-se ou não, isto é saber gerir expectativas do clube e do jogador. Do clube porque fica-se com o jogador mais um ano desportivamente focado no clube e do jogador, porque o jogador andará um ano atrás da “cenoura” a pensar que para o ano é que dá o salto.
Por isso a meu ver, cada caso é um caso e deve ser analisado friamente, de modo a nunca comprometer os objectivos financeiros e desportivos do clube. No caso do Rojo, do Slimani e do próprio Dier, foram cometidos vários erros de gestão e que com maior ou menor dificuldade podiam ter sido evitados.
No caso do Dier, é óbvio aos olhos de todos os que o acompanham que o jogador tinha potencial para render 2, ou 3 ou mais o que rendeu ao Sporting. Logo nós do lado do Sporting, não podemos esconder por detrás de clausulas que existiam no contrato, pois a direcção do clube, já está no mesmo há cerca de ano e meio e teve tempo mais que suficiente para negociar um novo contrato com o jogador.0
Um contrato que beneficiasse o clube e que beneficiasse o jogador. O jogador tinha mais que dois neurónios e não queria uma claúsula de 45M para o salário que lhe era proposto. Colocavam-lhe uma clausula de 15M. Era preferível receber esses 15M e manter um jogador que já conhecíamos o seu valor desportivo por mais um ou dois anos, do que receber 5M e perder um bom activo a nível de rendimento desportivo.
No caso do Rojo, penso que a partir do momento que o clube recebeu uma proposta de 20M por ele, o clube tem que se sentar à mesa de negociações com o MU e com o próprio Rojo. Não vale de nada ter um jogador insatisfeito no plantel e a desvalorizar. O jogador a partir deste momento tem a cabeça no MU e o nosso esforço deveria estar concentrado em negociar com o tal fundo, com o MU e com o Rojo. Depois do mundial que o Rojo fez, penso que era inevitável que o Rojo tivesse propostas bastante interessantes para a carreira dele e o mais provável era a saída do jogador. Desde o fim do mundial até agora, a direcção teve bastante tempo para encontrar uma alternativa válida ao Rojo e não fez nada nesse sentido, prefere esconder-se atrás de um contrato de 3 anos que ainda tem com o jogador. Isso vale de quê? Pergunto eu. No final, acho que todos sabemos o que vai acontecer, o Rojo já não voltará a vestir a camisola do clube e nós andamos a desgastarmos atrás da solução errada.
O caso do Slimani é um pouco diferente. Trata-se de um jogador que ganha pouco, para aquilo que contribuiu para a equipa no ano passado, mas que não é assim tão influente ou tenha potencial para valer muito mais do que vale agora. Por isso e com toda a lógica, deveria ter sido proposto um novo contrato ao jogador, de acordo com a influência do jogador na equipa. Na minha visão de contratos de trabalho, faz todo o sentido os contratos serem revistos todos os anos, nem que isso implique aumentos salariais. Se o jogador assinou um contrato no ano anterior, isso a mim não me diz nada. É óbvio que a direcção tem que se salvaguardar através de outros mecanismos de possíveis quebras de rendimento, nomeadamente prémios de jogo, eficácia, etc…
Daí que houve tempo suficiente desde o final da época passada até ao dia de hoje para tentar chegar a um acordo com o jogador. Se não o fizemos atempadamente pelas nossas razões, então também temos que saber lidar com os problemas que daí advêm.
Daqui para a frente, parece-me que a melhor solução é mesmo vender o jogador que está no pico do seu valor desportivo e parece-me, olhando ao que se paga por esse mundo fora, por avançados com a mesma influência e eficácia do Slimani que os 10/12M um preço justo.
Em nota final, espero que no futuro a direcção melhore e muito a maneira de gerir os seus activos, pois só tem a perder tanto desportiva como financeiramente. E se um caso é um caso, 4/5 casos por época já me parece demais e o Sporting ainda tem alguns activos muito importantes que estão atentos ao que se passa, falo do William, do Carrillo, do Adrien…
O Sporting precisa de estabilidade, precisa de organização, precisa de ter objectivos desportivos realistas, precisa de ter jogadores e os jogadores precisam de olhar para o Sporting como um clube que os ajuda também a alcançar os seus objectivos.
Tem que a ver uma simbiose entre todas estas variáveis, que infelizmente ainda não há, apesar de do esforço que reconheço às pessoas da direcção.
Saudações leoninas.