Caros amigos,
Aproveitando mais este magnífico trabalho do Tó Mané, deixo aqui algumas notas pessoais sobre a época dos juvenis e juniores 2008/2009, tendo por base, essencialmente, os dois únicos jogos que tive a oportunidade de presenciar este ano (Boavista-Sporting em juvenis e Porto-Sporting em juniores). Trata-se, sem dúvida, de uma visão bastante reductora e certamente enviesada, mesmo considerando que já havia observado, em anos anteriores, outros jogos da grande maioria destes jogadores. De qualquer forma, aqui vai.
Como sou daqueles que entende que o principal objectivo dos escalões jovens é o de formar futebolistas (sem esquecer também a fundamental componente humana) que possam, mais tarde, vir a integrar a equipa sénior do Sporting, diria, nessa perspectiva, que:
a) No que se refere aos Guarda redes, espero enganar-me, mas julgo sinceramente que, nem o Vitor Golas (apesar da sua excelente presença física, parece-me um pouco inseguro e com algumas dificuldades de concentração), nem o João Figueiredo, irão singrar num clube com a responsabilidade do Sporting;
b) Em relação a defesas centrais – e ao contrário daquela que foi, durante muitos anos, a escassa tradição da formação do Sporting nessa posição (lembro-me, por exemplo, de uma dupla de centrais inenarrável da geração do Figo, Peixe, João Oliveira Pinto, Paulo Pilar, Paulo Torres & Cª) – o futuro parece mais do que assegurado. Pedro Mendes, Nuno Reis (talvez o que mais me agradou, ainda por cima com mais um ano de júnior), Ignacio Ameli ou Miguel Serôdio fizeram jogos sem quaisquer erros, demonstrando uma segurança irrepreensível. Já agora e pelo que vi, também, de alguns (poucos) minutos de transmissões televisivas dos iniciados, tanto o Eric Dier, como o Tobias Figueiredo, parecem, de igual modo, dar muito boas garantias;
c) Nas laterais, pelo contrário e, infelizmente, aliás, tal como acontece nos seniores, temos algumas dificuldades, sendo, porventura, com a excepção do Cédric Soares, os pontos mais fracos das duas equipas. Cédric (e, de alguma forma, também, Rui Coentrão, nos juvenis) confirmou ser tecnicamente um dos melhores jogadores da equipa, tem grande atitude competitiva, lutou e levou a melhor na grande maioria das situações sobre o Diogo Viana, mas parece-me ter algum déficit de estatura física para vir a ser opção para este lugar num clube com as responsabilidades do Sporting. É evidente que, como dizia Jozic, para laterais querem-se, sobretudo, jogadores de elevada rotação e potência (e isso Cedric seguramente garante), mas, também, não é por acaso que, por exemplo,os laterais escolhidos por Mourinho têm geralmente sempre cerca de 1,85 m ou mais. De qualquer forma, um caso a rever este ano;
d) No meio campo, estamos, na maioria dos casos, servidos por jogadores de elevado potencial.
Na posição 6, temos o Diogo Amado, o grande capitão que dá o exemplo e carrega a bandeira, com enorme atitude competitiva, grande determinação, muito inteligente no jogo posicional (sobretudo, quando ficamos reduzidos a 10 o seu papel foi essencial), recupera muito mais bolas do que, por exemplo, o Miguel Veloso, embora não tenha a sua qualidade de passe (foi pena o conjunto de lesões que o afligiram nos últimos anos, mas, de qualquer forma, um caso a acompanhar neste primeiro ano de transição para os seniores) Nos juvenis, nesta mesma posição 6, temos o excelente Afonso Taira, noutro estilo (mais à “Paulo Sousa”), com menos intensidade defensiva, mas muito adulto e com grande visão de jogo.
Já na posição 10, destaque, claro, para o Diogo Rosado, porventura e se quiser, mais um futuro géniozinho da cantera do Sporting: o mais brilhante tecnicamente (neste caso, uma espécie de Pedro Barbosa “esquerdino”, por isso, muito susceptivel, portanto, a uma tensa relação amor - ódio com os adeptos), sem qualquer receio de assumir a condução do jogo, driblando de forma irritantemente tranquila quem lhe aparece pela frente (por vezes exagerando, mas a verdade é que apenas o conseguiram travar em sistemáticas faltas) e, neste jogo (nem sempre sucede…), com um excelente timing de desmarcação para os colegas (o passe para o segundo golo é de uma simplicidade notável e, salvo erro, a recuperação de bola no primeiro também é da sua lavra). Este ano apareceu fisicamente mais poderoso, sendo, por isso mesmo, ainda mais dificil desarmá-lo. Claro está que, “à Pedro Barbosa”, praticamente não defende e necessita corrigir atitudes também que lhe podem valer alguns precalços disciplinares, sobretudo, num clube “marcado” pela arbitragem como é o caso do Sporting. Se se empenhar, com determinação, em corrigir algumas insuficiências poderá ser um caso muito sério em termos nacionais e internacionais, caso contrário, corre o risco de ser mais um Dani… Nesta posição teremos, também, no próximo ano o Ibrahim Rabiu (não jogou contra o Porto, porque o Lima optou por um meio campo mais musculado), que, embora relativamente franzino, no mundial sub-17 me pareceu um 10 puro (sem … vic, por favor…), com uma extraordinária visão de jogo, descobrindo sempre, com pezinhos de lã, linhas de passe que rasgavam completamente as defesas adversárias.
Nas restantes posições da linha média, merece referência, nos juniores, o notável André Martins, uma espécie de mini-Moutinho, mais um médio “box to box à Academia”, também sempre em todo o lado a atacar e defender com elevadíssima rotação e inteligência (é pena a sua baixa estatura, mas, mesmo assim, tenho esperanças que nos possa vir a ser muito útil no futuro). Já nos juvenis, o destaque vai para o Zézinho, fisicamente bastante poderoso e também ele um protótipo (tal como o lesionado William Carvalho) da tal excelente nova escola de médios “box to box” da Academia.
e) Nos avançados, a minha principal esperança é o Wilson Eduardo. Apesar de ter sido um jogo bastante ingrato para ele (atendendo a que a expulsão muito cedo do Amido fez com que Wilson tivesse que tentar – muitas vezes sem sucesso – cobrir o lado direito do Porto), esforçou-se bastante, exibindo grande rapidez de execução, remate expontâneo, e sendo, no momento certo, decisivo, com uma das suas (já tradicionais - e letais) diagonais explosivas entre os centrais. De qualquer forma e apesar de não ser muito alto, é um talento a acompanhar de forma circunstanciada nesta dificil transição para os seniores, sobretudo, numa posição em que escasseiam, ao nível nacional, jogadores com o seu tipo de características. Nos juvenis, o meu destaque vai para o argentino Alexis Quintullen, um extremo esquerdo puro de grande qualidade. No jogo do Bessa não passou uma, duas, três vezes pelo defesa do Boavista (ainda por cima um dos mais aguerridos), passou simplesmente sempre e criou, além do golo, as principais situações de perigo. Um perigo à solta e um prazer para quem gosta de ver bom futebol (tenho pena, aliás, que o Tiago Cerveira – que aparentemente vai agora ser dispensado – também jogue nesta posição, pois, apesar da sua também pequena estatura, desde os iniciados me parecia ser um dos jogadores mais promissores desta geração).
Para finalizar este já longo comentário, deixava apenas duas notas para reflexão.
Em primeiro lugar, se não me preocupa muito que as nossas equipas dos escalões jovens sejam frequentemente menos organizadas em termos tácticos (sobretudo quando comparadas com as equipas do Porto, que são, quase sempre, as mais certinhas, ficando, no entanto, na minha opinião, os seus jogadores, desde muito novos, muito agarrados aos esquemas tácticos e com muito pouca margem para arriscar expressar a sua criatividade técnica), já não posso dizer a mesma coisa no que se refere a algumas deficiência e/ou insuficiências individuais que se continuam a registar, em situações como o remate, o cabeceamento, o cruzamento ou o timing do passe. São situações em que, mesmo os jogadores mais criativos e tecnicamente mais desenvolvidos, necessitam ser trabalhados, de forma mais individualizada, sistemática e, diria eu, mesmo obcessiva (exigindo, porventura, como fazia o Mirko Jozic, treino específico posicional). Figo, por exemplo, já no Sporting era um jogador com elevadíssimo potencial, mas, na minha opinião, só com Cruyft, aprendeu, quer a técnica do remate (com os pés, já que o cabeceamento foi sempre um dos seus pontos fracos – lembram-se do Portugal-França na meia final do Mundial), quer a cruzar e a passar no momento certo. A nossa formação, que será uma das melhores do mundo na prospecção, necessita de continuar a melhorar, assim, alguns destes aspectos mais relacionados com o apuramento da capacidade individual de cada jovem futebolista.
Por fim, uma última nota para o acompanhamento que é fundamental efectuar relativamente aos jovens que transitam para o escalão sénior. Já se sabe que, parte significativa deles, mesmo que venham a ser emprestados e não deixando de ser bons jogadores, poderão nunca mais voltar a vestir a camisola do Sporting. Já se sabe que, muitas vezes, existem momentos de sorte e de azar que, nestas idades, lançam uma carreira para percursos fulgurantes ou simplesmente para lugar nenhum (por exemplo, na minha opinião, aquela lesão antes do Mundial sub-20 “matou” a carreira de Paulo Pilar, que até era um dos jogadores mais promissores e titular indiscutível da selecção em detrimento do lampião Costa).
Sendo, na minha perspectiva, muito importante o empréstimo dos juniores mais promissores neste primeiro ano (até para, em alguns casos, passarem, quer a ser menos “meninos mimados”, quer a ter uma noção mais efectiva das dificuldades do “dia a dia” da realidade futebolística nacional e a compreender melhor a grandeza do próprio Sporting), parece-me ser indispensável continuar a efectuar um acompanhamento muito próximo da sua evolução por parte da estrutura técnica, não deixando de ter em consideração as características específicas de cada um dos jogadores. Por exemplo, Pereirinha e Carriço – dois dos principais talentos das gerações anteriores - tiveram bastantes dificuldades nesse primeiro ano de seniores (em ambos os casos raramente eram titulares) e não foi por causa disso que não se optou rapidamente e logo de seguida pelo seu regresso (tratam-se, tipicamente, na minha opinião, de dois jogadores de “clube” grande, com riscos elevados de desmotivação se permacessem muito tempo em situação de empréstimo). Pelo contrário, André Marques e Saleiro, jogadores com bom potencial (embora, não sendo, eventualmente, talentos extra), tiveram que ser fortes tecnica e psicológicamente (sobretudo o primeiro, muito afligido por lesões) e fazer pela vida para conseguir regressar ao Sporting e terem este ano, porventura, a sua última grande oportunidade de se fixar no plantel principal.
Saudações Leoninas,
Pedro Santos