Jornal Sporting 24/08/88
O Violino Jesus Correia em discurso directo:
“(…) Os triunfos do Sporting na segunda metade dos anos quarenta e primeira metade dos anos cinquenta são devidos a muitos factores, um bom lote de jogadores, bons técnicos, ambiente de camaradagem. Éramos todos amigos, uma organização modelar para a época, mas há um factor deveras importante, a que nem sempre se dá, parece-me, o devido relevo, ou seja, a presença no colectivo de uma figura influente como era o seu defesa direito, Álvaro Cardoso, pelo que jogava, tinha mesmo classe na função, mas, sobretudo, pela forma como desempenhava as funções de capitão de equipa. Era inexcedível, pelas suas condições de liderança, impunha-se com toda a naturalidade, sem autoritarismos, apenas pela sua enorme personalidade. O público, cá fora, não se apercebe, não se pode aperceber, de tudo quanto se passa dentro das quatro linhas. Em muitos jogos, onde as contrariedades faziam a sua aparição, era o capitão Álvaro Cardoso quem nos galvanizava, quem indicava o caminho da luta sem desfalecimentos. Recordo-me de um jogo, que, a determinada altura, ganhávamos por seis golos. Pareceu-me compreensível um certo abrandamento, a sua reacção não tardou, impondo-me uma ilimitada aplicação como se o jogo não estivesse resolvido, lá balbuciei um “Sim, Sr. Cardoso”, e tive que acelerar.”