TÁCTICAS: Middlesbrough de Steve McClaren
TECNICAMENTE FORTE NO MEIO CAMPO, COM DEFESAS EXPERIENTES E AVANÇADOS RÁPIDOS.
Orientado por um dos mais promissores técnicos ingleses da actualidade, Steve McClaren, adjunto de Eriksson na selecção, este Middlesbrough é hoje uma das mais interessantes equipas do futebol inglês. Tacticamente quase sempre fiel ao 4x4x2, á excepção de alguns desvios em 4x1x4x1, baseia o seu jogo na força táctico-técnica do meio campo, um pêndulo entre uma defesa experiente e um ataque rápido que gosta essencialmente de jogar em contra-ataque.
Tem, no carácter, o perfil das tradicionais equipas britânicas, lutando por cada bola como se dela dependesse o resultado, mas, no estilo, revela já uma forma mais continental de abordar o jogo, o que se detecta, sobretudo, na forma como se esquematiza o seu meio campo, sempre com dois médios-centro pivot, subindo e descendo pelo corredor central, e dois alas bem abertos nas faixas para poder colocar em prática um futebol apoiado e que gosta de sair em trocas de bola para o ataque, em busca de avançados rápidos e letais.
Actual 6º classificado da Premier League, sonha ainda chegar á Liga dos Campeões. Adjunto e confidente de Erikson na selecção, com eu fala durante longas horas, McClaren é dos técnicos ingleses mais convertido ao estilo continental.
Em termos de sistema, os dois jogos da ultima eliminatória europeia, frente ao GAK da Áustria, são um bom exemplo dos dois rostos que o seu Middlesbrough pode adquirir. Pequenas detalhes tácticas que fazem o onze variar, essencialmente, entre o clássico 4x4x2 (o seu sistema de referência) e um mais cauteloso 4x1x4x1 (utilizado nos jogos teoricamente mais difíceis, como fez na deslocação á Áustria, apostando mais no contra-ataque).
É, nesta vertente mais de contenção, dividindo o meio campo em duas linhas –em contraste com o solitário clássico quarteto em linha do 4x4x2- que consegue maior posse de bola. Tal nasce, desde logo, do facto de, á frente da clássica defesa a «4», colocar um trinco-pivot (Doriva, ex-FC Porto em 97/98) destacado para pautar o ritmo de jogo, tentando torná-lo, quase sempre, mais lento. Foi ele que serviu de uma espécie de filtro para as bolas que depois chegavam á segunda linha do meio campo, com Zenden, interior esquerdo, e Parlour, mais sobre a direita, a servirem de volantes, ora transportando jogo para o ataque, ora abrindo para os young boys das alas, Downing, á esquerda, e Morrison, á direita. No ataque, solitário, á espera e cruzamentos ou passes verticais, o letal Jimmy.
Na segunda mão, no Riverside Stadium, escalou o 4x4x2 clássico. Prescindiu do pivot recuado e soltou o quarteto do meio campo no apoio á móvel dupla de pontas de lança, Jimmy-Job, sempre em movimento, buscando espaços vazios de desmarcação e traçando, assim, sem bola, mortais linhas de passe.
A falta do maestro Boateng
Apesar das boas exibições realizadas, McClaren tem sido, no entanto, um treinador preocupado desde o inicio da época, quando deixou sair o brasileiro Juninho para o Celtic. Principal motivo: as lesões de jogadores chave para o seu modelo de jogo. Primeiro, foi o espanhol Mendieta que, com um problema no joelho, ficou, desde o inicio, de fora para toda a época. Depois, em Janeiro, foram as lesões do ponta de lança Viduka, e, sobretudo, do médio ganês Boateng, eleito o jogador mais valioso na época passada, claramente o elemento mais influente da equipa em termos de organização de jogo. Ambos, lesionados, já não jogam há quase dois meses e só agora recomeçam a treinar. Tal levou a adaptações a meio campo, como a adaptação de Zenden, originariamente ala ou lateral esquerdo, ao centro, mas, ao mesmo tempo, permitiu o lançamento de dois jovens talentos: Downing, ala esquerdo (20 anos) e Morrison (ala direito, 18), os rebeldes das faixas que dão alegria ao jogo do Boro.
DEFESA: O velho Southgate
Mantendo sempre a clássica defesa de quatro elementos, ainda é o veterano Southgate, 34 anos, a assumir-se como o patrão do sector, fazendo dupla, no centro, com Riggot. Sem velocidade, Southgate vive hoje sobretudo do seu perfeito sentido posicional, mas sofre muito perante avançados rápidos ou quando é forçado a ir dobrar nas faixas as subidas dos laterais, zona onde moram dois jogadores tacticamente muito inteligentes, Reiziger, 31, á direita, e o francês Queudrue, á esquerda, pois gerem muito bem as compensações defesa-ataque, para subindo em apoio, ora fechando o flanco atrás. Neste contexto, Reiziger é o elemento mais activo a atacar, triangulando com Morrison nas subidas.
MEIO CAMPO: Os rebeldes dos flancos
A zona onde moram os motores da equipa. Sem Boateng, o regente do sector voltou a ser o velho Parlour, 31 anos, antigo pilar do Arsenal, onde jogou 14 épocas. Apesar de manter a mesma visão de jogo e atitude lutadora, está, claramente, mais lento e pesado. Sem velocidade, faz muitas faltas, sobretudo quando sobe no terreno. Apanhado em contra-pé não lhe resta outra alternativa e, assim, leva vários amarelos. A seu lado tem jogado o esquerdino Zenden, que passou da ala para interior-esquerdo. Mais vertical nas subidas pelo corredor central, veloz, inteligente nas trocas de bola e com remate fácil de fora da área.
O ponto mais forte do sector, em termos de dinamização ofensiva, reside, no entanto, nos flancos, com dois virtuosos médios ala, Morrison e Downing. Muito fortes a atacar, driblando em progressão, procurando a linha ou revelando excelente precisão de cruzamento. São eles que, servidos pelos médios centro, abrem o jogo da equipa a toda a largura do terreno, encaminhando pelas faixas ao maior fluxo de jogo ofensivo do onze. Nesse sentido, é um onze muito rápido, quando faz as transições defesa-ataque, e mais cerebral, quando o faz pelo centro. É, nesta dinâmica posicional, um dos onzes mais bem destribuidos tacticamente do futebol inglês.
ATAQUE: A corte de Jimmy
No ataque, McClaren sonhou, no inicio da época, com uma dupla terrível, daqueles que ora chuta de qualquer lado, de primeira e em força (Jimmy) e é, ao mesmo tempo, possante e forte de cabeça (Viduka). Após primeiro tempo de adaptação, Viduka (5 golos em 14 jogos) lesionou-se quando a sociedade começava a ganhar mecanização, como confirmam as estatísticas: sempre que jogaram juntos, o Middlesbrough ganhou 75% dos jogos.
É o quarto melhor ataque da Liga inglesa, com 41 golos, só superado por Chelsea, Manchester e Arsenal.
Para jogar ao lado de Jimmy (10 golos em 25 jogos), as duas soluções são Job ou Nemeth, dois jogadores muito diferentes.
O camaronês Job é o típico africano rebelde. Alto e muito ágil, meio desengonçado, é capaz tanto de rasgos individuais espectaculares como de, pura e simplesmente, desaparecer do jogo.
Por sua vez, Nemeth é uma espécie de segundo avançado, daqueles que entra de trás, muito ágil a desmarcar-se pelos flancos. Em quatro épocas no Riverside nunca foi titular fixo, mas é sempre a primeira alternativa para refrescar o ataque.
ESTRELA: Stweart Downing, um canhoto de selecção
O seu talento, colado á faixa esquerda, driblando, progredindo com a bola dominada, cruzando com precisão, descobrindo espaços de penetração ou entrando de trás para rematar, é, hoje, dos mais sedutores do novo futebol inglês. Concilia inteligência e técnica com a bola nos pés. Após duas épocas nas reservas e meia emprestado ao Sunderland, confirma-se, este ano, como a maior estrela do onze de McCLaren.
Titular de todas as selecções jovens, pilar da nacional Sub-21, perfila-se como o novo dono do flanco esquerdo da principal selecção inglesa, o posto onde Eriksson tem sentido mais dificuldades em encontrar valores seguros. Pois bem, pode parar de procurar. Stewart Downing é, indiscutivelmente, um jogador de selecção.
O onze que eliminou o Graz (vitória, 2-1) Sistema: 4x4x2.
O sistema clássico de McClaren. A chave da dinâmica táctica ofensiva reside na criatividade e velocidade dos alas, enquanto a zona central mescla tarefas de contenção com transporte de bola. Quando parte para o contra-ataque fá-lo quase sempre pelas faixas. Na frente, Jimmy nunca se cansa de marcar golos…