Custa-me opinar com base em momentos. Quer dizer, faço-o, mas de acordo com o momento. Posso ter ou não opinião formada, neste caso sobre um jogador, portanto resguardo-me na medida do possível ( exemplos: Ribas e Xandão ), mas quando consigo consolidar um conjunto de impressões, estas tornam-se convicções e é preciso muito para as abalar. E é raro serem abaladas, mas acontece.
O que penso sobre Carriço é um exemplo disso. Vi-lhe demasiadas coisas boas nos seus primeiros dois anos para inverter a minha opinião após um péssimo terceiro ano. Admitirei a falta de evolução e a não correspondência com os potencial que se lhe adivinhava, mas muito dificilmente admito a sua falta de qualidade que quase que se tornou um dogma para a generalidade dos adeptos. Continuo a acreditar que dentro de um enquadramento colectivo decente, é um jogador à altura de um bom Sporting.
Tal como acreditei sempre no potencial de RP. Sempre. Felizmente teve capacidade mental para dar a volta a momentos muito difíceis, em grande medida causados por aqueles que o deviam apoiar.
Há mais 2 jogadores neste plantel de quem não desisto... em comum com os anteriores, o terem passado pelos tais momentos menos bons, por culpa própria, pelos defeitos que têm, por responsabilidades de terceiros e pelo próprio momento do clube, que não ajudou em nada o seu crescimento e evolução e... aquilo que entendo ser qualidade intrínseca. Matias, que veio para o Sporting no pior momento da sua história centenária e que pela sua personalidade pouco afirmativa, irregularidade por problemas físicos, pelas suas próprias características, que muitos treinadores entendem ser secundárias, num futebol cada vez mais musculado e robotizado, que foi alvo de injustiças, por treinadores que durante meses consecutivos o punham a jogar nos últimos minutos de jogo ou que facilmente o vêem como o jogador a pôr de lado, por nunca levantar problemas e se queixar do banco, de jogar fora de posição ou de ser empurrado por colegas. Não é pena por ser ostracizado, é gosto pelo seu futebol mágico, que numa equipa
que apresenta, semana após semana, um futebol que mexe com os meus nervos pela pobreza e me faz exprimir imprecações e interjeições de desespero, este jogador, para mim, é dos poucos focos de satisfação e surpresa positiva e por vezes de encanto, por aquilo que faz em campo, quando tem continuidade. Merece ser grande e que o ajudem a tal. E acho injusto que não se reconheça todo o seu talento, mesmo que irregular e mesmo que, por vezes, haja desagrado por não se impor como deveria.
E resta Wolf. Um jovem que quando teve a sua equipa ao pé de si, baralhava as marcações, movia-se como um predador dentro de área, recebia a bola de forma primorosa para remate pronto, com o pé esquerdo, direito, calcanhar. Um PL de processos simples, de gestos técnicos irreprensiveis, com remate cínico, clínico e letal, de primeira ou ajeitando a bola. Nada a ver com o velho Liedson, que do nada... resolvia, o jovem holandês depende da sua equipa, como avançado mais posicional que é, como jogador ainda em formação, pela idade, por ser o seu primeiro ano neste pais, nesta liga e neste clube, que de um momento tudo se põe em causa, onde muitas vezes se falha os alvos nas criticas que se fazem e que se anda à volta do acessório. O que Wolf fez durante 3 meses, não foi por sorte ou por hype. Aquilo que fez está-lhe no sangue, é de quem tem escola.
No Sporting, repito, olha-se para o momento e são raros os que lutam por aquilo que acreditam, mesmo que o tenham visto, muitas vezes. É transversal, desde quem tem o poder ao comum adepto de rua. É por isto que tudo abana, á primeira contrariedade e é também por isto, que atletas de qualidade parecem cair num poço onde não há retorno, duvidam daquilo que são, do que fizeram e de quem está a seu lado dentro de campo. É uma doença, própria de um clube sem rumo e sem liderança.
São estes os jogadores do clube por quem tenho mais carinho. Não por serem os melhores ( embora inclua RP e Matias nos 3, 4 melhores jogadores do plantel ), mas pela qualidade pouco apreciada, demasiadas vezes, pelo seu carácter e profissionalismo. E pelos defeitos que têm, também. Nunca os vi como perfeitos. Mas encaixam na perfeição, em termos de potencial e postura, não no meu jogador de sonho que quero ver no Sporting, mas de jogadores que me orgulho que vistam a nossa camisola.