Hoje com mais algum tempo para comentar, cá vai...
Na sexta feira fiz aqui um exercicio estatistico que sustentava essencialmente a ideia de que uma votação tão participada poderia ser benéfica a PPC. Pelos vistos só (quase) acertei nos numeros finais de votantes: 11200 e foram afinal 11360!!!

Quanto ao resto errei. Mas parece-me que o raciocinio estaria correcto. Parece-me que à luz das estatisticas dos anteriores actos eleitorais, onde os presidentes vencedores que utilizaram argumentos mais populistas, de apelo ao Sportinguismo vencedor, à esperança num Sporting maior e mais capaz, grande, competitivo e vencedor, tiveram eleições mais participadas. Ao contrário, as ultimas eleições, que corresponderam à eleição dos presidentes do projecto, do cinzentismo, do discurso miserabilista, pseudo-realista, de constante vitimização e descredibilização do Sporting, foram as menos participadas.
Isto fez-me pensar que, atendendo ao padrão de participação, PPC poderia ter hipóteses.
Qual não é o meu espanto quando vejo os números oficiais: 90% vs 10%!!!!!!
Mais: em 2004, FSF ainda apresentou um projecto (mau, é certo) e SAM teve uma campanha muito menos entusiástica e conseguiu ainda assim um resultado perto dos 30%. É absolutamente incompreensivel um resultado destes...
No entanto... e pensando bem, num país que elege corruptos e trafulhas declarados, isto não pode ser de admirar, e só mostra que afinal 90% da massa associativa de "elite" não é afinal tão diferente do povão que elege Felgueiras, Valentins, Albertos Joãos, Isaltinos, Avelinos e quejandos.
Lá se vai a "diferença"!!!
E agora reflectindo serenamente, considero que houve 3 factores que contribuiram para a derrota de PPC, ainda que dados os numeros da derrota, possam não ter sido fundamentais:
- desde logo a abordagem da comunicação social à candidatura Ser Sporting, foi talvez o maior handicap com que a mesma teve de lidar. Foi absolutamente vergonhosa a forma como a CS tratou esta candidatura. Num país que se diz democrático, aquilo que se viu - uma atitude declarada de boicote por parte da generalidade dos orgãos de imprensa (especialmente a desportiva) - é intolerável e digno de práticas fascistas de controlo das massas através destas ao acesso à informação. Mais do que nunca, o titulo do livro do Orwell que dá nome ao meu nick, faz sentido no contexto destas eleições e no fundo no estado actual do Clube, em que a manipulação de dados, factos e outro tipo de informação, transforma uma massa de sócios em simples carneiros obedientes - 90%!!! Welcome do 1984!!
- SGE: o anuncio por parte de PPC de SGE como seu treinador, foi para mim um dos factos importantes da sua campanha, e talvez o maior tiro no pé. E digo isto, não pelo anúncio deste nome, mas pela promessa de apresentação do treinador num determinado prazo, algo que nunca se veio a confirmar. Parece-me que a divulgação das fotos foi um acto de algum desespero face à promessa não cumprida. Este facto elevou o nivel de desconfiança dos sócios perante PPC e a sua lista.
- Nedved, Micolli e Juninho: o boato lançado para os jornais indicando estes nomes, e ainda por cima com declarações do próprio PPC foi também um tiro no pé monumental. Os sócios definitivamente não acreditaram nestes nomes, ainda por cima com a desconfiança já aguçada pela promessa não cumprida de apresentar SGE. Atente-se ao facto de os sócios do Sporting estarem de tal forma habituados à mediocridade, que quando alguém (e ainda por cima um candidato) refere um nome do calibre de SGE ou Nedved, já nem acreditarem, catalogando-os como matéria de fantasia pura.
Estes são factos importantes que podem explicar o mau resultado, mas claramente não serão os unicos.
Alguém aqui já disse que a democracia não é um conceito absoluto. A democracia, um pouco à imagem da liberdade, tem condições que pré-determinam a sua legitimidade e aplicabilidade. Como alguns já tiveram oportunidade de ler, eu sou claramente um critico do sistema democrático como o conhecemos - da representatividade e do parlamentarismo.
E sou-o porque por um lado, não acredito em representantes, e por outro, não acredito em massas populares que votam condicionadas à partida por tudo aquilo que o sistema entende que devam ou não saber, e isto inclui claramente o acesso à informação, à formação e à educação.
Num determinado sistema democrático, não pode haver democracia se quem vota não tem igual acesso à informação e à educação. Quando estes direitos são propositadamente boicotados pelo sistema a isso eu não chamo de democracia: chamo fascismo.
E foi isso que aconteceu nestas eleições e que sistematicamente, e de forma encapotada, acontece nas sociedades actuais, um pouco por todo o lado! No fundo isto foi apenas o espelho da sociedade em que vivemos. Imaginem o que aconteceu nestas eleições para os orgãos sociais do SCP a uma escala muito maior.
É assustador, meus caros.
Já dizia Francisco Ferrer i Guárdia que "o trabalho mais revolucionário é instruir cientificamente as massas".
É por isso que, por muito que queiram o clube unido, ele vai estar sempre divido entre aqueles que acreditam nos seus ideais e pensam pela sua cabeça, e aqueles que papam tudo o que lhes dizem, sem questionar. Porque jogando à partida com os dados viciados, dificilmente alguém que não abandona os seus ideais se submeterá a um "regime" com o qual não se identifica.
É claro que estamos num clube desportivo com todas as suas circunstâncias especiais. É claro que quererei que o Sporting ganhe sempre e tudo farei para tal. Mas também sei, que este não é o caminho para tal, e dificilmente terei as alegrias que gostaria.
Mas nunca me conformarei com o miserabilismo, com a falta de ambição e sobretudo com o conformismo e a falta de esperança.
Cá estarei para pedir responsabilidades quando se for fazer o balanço.
E se for preciso, cá estarei para erguer o Sporting das ruinas em que previsivelmente se transformará com esta cambada ao leme.