Tive a sorte de poder ver este jogo ao vivo e partilho convosco as minhas impressões.
A primeira coisa em que reparei quando entrei em Genebra foi na enorme quantidade de bandeiras portuguesas penduradas nas varandas e janelas dos prédios. Os suíços permitem a exibição de bandeiras estrangeiras, mas parece que quando mora um suíço na casa também tem que se pendurar a bandeira suíça. Assim, há muitas casas em que se vê a bandeira suíça e uma de outro país. Penso que se não fosse isso talvez houvesse mais bandeiras portuguesas do que suíças. De qualquer modo, na parte da cidade em que eu andei a bandeira estrangeira que mais se via era a nossa.
Não é verdade que quem passe por Genebra nem se aperceba de que está a decorrer o Euro. Os suíços penduraram uma bola enorme por cima daquele repuxo que é o ex-libris da cidade e há uma boa quantidade de bandeiras e cartazes alusivos ao Euro nas ruas. Também há qualquer coisa relativa ao campeonato (uma bola, uma bandeira, uma camisa da selecção, uma imagem daquelas mascotes parvas, etc.) em praticamente todas as lojas.
A organização tem alguns defeitos, os sinais que indicam as vias de acesso ao estádio mal se vêem e quando perguntámos pelos especiais para o estádio na estação de comboios os funcionários dos caminhos de ferro ficaram um bom bocado a olhar para nós antes de responderem. A distância entre a estação de comboios e as paragens dos eléctricos e o estádio é considerável, talvez como a que vai de Entrecampos a Alvalade, apenas com umas setas minúsculas a garantirem que vamos na direcção certa. O estádio é pequeno, mas em boas condições, a revista à entrada é impiedosa, os espectadores são apalpados à força toda. A organização oferece umas bandeirinhas em pano a quem quiser, que além das bandeiras dos países propriamente ditas têm, algo enigmaticamente, uma faixa branca com "RESPECT" escrito. Um aspecto positivo foi terem mostrado o jogo Suíça - República Checa nos écrans gigantes.
O público estava mais ou menos dividido a meio entre portugueses e turcos, com alguns suíços e pessoas de outras nacionalidades pelo meio. Havia uma faixa da JL Holanda e alguns membros da JL exibindo material da claque. Também havia uma pequena claque organizada, com capos e tudo, no centro da superior do lado "português". O apoio foi incessante, desde o hino (o entusiasmo habitual dos portugueses sobressaiu ainda mais porque os turcos não cantaram ou mal cantaram o hino deles, apesar do "karaoke" nos écrans gigantes) até ao final do jogo. Os turcos não corresponderam totalmente à sua reputação de adeptos ferozes, começaram com grande entusiasmo, mas este foi esmorecendo à medida que Portugal foi tomando conta do jogo.
O jogo em si foi muito bom, Portugal entrou a dominar e só por azar é que não marcámos na primeira parte. O Ricardo esteve muito bem, sem sobressaltos nos cruzamentos. Gostei dos defesas centrais, estiveram em grande nível, tal como o Bosingwa. Pareceu-me que o Paulo Ferreira teve algumas falhas, se calhar por ter sido colocado na esquerda. O Nuno Gomes surpreendeu-me pela positiva, esteve muito activo e quando saiu a equipa quebrou um pouco de rendimento. Não marcou, mas foi muito importante a abrir espaços na defesa turca e esteve muito bem no lance do 1.º golo. O Ronaldo vai ter que se habituar a ter sempre dois ou três adversários de volta dele. Penso que para ele este será um Europeu de sacrifício, em que deverá sobretudo arrastar os adversários atrás de si e abrir espaços para os outros jogadores. De qualquer maneira, fez uma boa exibição.
O Moutinho foi igual a si mesmo, um jogador sóbrio, que não erra, que distribui jogo e com o qual se pode sempre contar. A sua intervenção no lance do 2.º golo demonstra a sua grande qualidade. Ao receber a bola, pressionado por um defesa, soube exactamente o que queria fazer, quando e como. Este lance foi mesmo à minha frente e foi delicioso de ver. A calma do João Moutinho e a qualidade da sua intervenção demonstraram mais uma vez a sua maturidade precoce. Já que se fala da sua saída, infelizmente cada vez mais inevitável, proponho que se lance a campanha "Todos menos o Barça", pois o FCB especializou-se em comprar-nos jogadores e depois recambiá-los para os nossos maiores rivais. Agrada-me pensar que o Moutinho recusaria jogar em qualquer clube português menos no Sporting, mas todos sabemos como é o futebol moderno.
Findo o jogo, uma palavra para o desportivismo dos turcos, que se misturaram connosco sem qualquer problema e sempre amigáveis. Tivemos que andar grande parte do trajecto de regresso, o que acabou por valer a pena pois, depois de termos visto as bandeiras portuguesas, pudemos ver e conviver com as pessoas que as penduraram. Não sei que imagens da festa em Genebra é que passaram na televisão, mas a cidade foi invadida por um exército verde-rubro, durante horas houve carros a buzinar e multidões nos passeios e nas ruas, com bandeiras, cachecóis, camisolas, etc. Muita gente saiu de casa e colocou-se à porta da rua só para fazer a festa e ir saudando quem vinha do estádio. Foi um grande momento, um dos pontos altos do dia, a festa não ficou a dever nada às que vi em Lisboa no último mundial e para mais não se centrou num só local - uma vez que há portugueses em várias partes de Genebra, estendeu-se por quilómetros em toda a cidade. Todos os elogios que se fizerem aos emigrantes portugueses quanto ao seu apoio serão poucos.
Embora não se devam criar desde já expectativas exageradas, foi nítida a melhoria da qualidade do jogo da selecção em relação aos jogos de qualificação. Se Portugal quiser ir longe, terá que derrotar adversários muito mais complicados do que a Turquia, mas a atitude e entrega no jogo de Sábado dão-nos motivo para ter esperança.
Resumindo, um bom jogo da selecção e um dia muito especial para mim.